Ateliê Transforma em Galeria de Artes


UM ARTISTA NÃO COMPREENDIDO
* Tânia Maria Santana Botelho

                     1.  Magela: a pessoa e o artista
 Quem é Magela? Parece uma pergunta simples. Mas, tratando de um artista ou de uma pessoa incomum é muito difícil definir uma pessoa. Qualquer pessoa é muito complexa para um estudo.  Ë necessário tentar compreender uma consciência individual e que está inserida numa consciência coletiva. No universo coletivo, compreender a história da região no qual está inserido essa pessoa, a cultura familiar e processo de desenvolvimento e amadurecimento da identidade da pessoa e do artista.

A pessoa humana é um ser complexo. Trata-se de vários aspectos: corpóreo, histórico, social, político, cultural, econômico; corpo e alma. Procuro aqui refletir sobre os aspectos históricos e culturais de um artista que transcende ao seu imaginário cultural. Ele mesmo entender quem ele é. Assim, como poderei compreendê-lo,uma vez  que a sua identidade  pessoal e artística ainda está em construção? Não se especula aqui a questão da sua opção sexual, analisar-se-á a arte e a identidade cultural de Geraldo Magela.
Para relacionar-se com ele é necessário abertura para entender o imaginário e a alma do homem do vale, na sua transparência, afeto e tradição familiar.  A incompreensão humana dificulta aceitação a complexidade de um homem que não oprime a dimensão e  sensibilidade feminina.
Nascido em 18 de agosto de 1968, em Almenara no Hospital Deraldo Guimarães. Nasceu prematuro de oito meses. Quando a sua mãe descobriu que estava grávida, o seu marido já tinha ido embora. Assim resolveu entregar o seu filho ainda em seu ventre a São Geraldo Magela para proteger e acompanhar os passos de seu filho. E o artista tem a devoção ao São Geraldo Magela. A única foto que sua mãe o entregou de seu pai, numa atitude de desprendimento, ele inseriu em uma obra de arte “Bem Brasil” que é um trabalho que em breve estará numa exposição em São Paulo.
A memória individual e coletiva se faz presente em suas obras de arte. Na sua memória traz a presença do avô Augusto Lima (“Augusto Surunga”, celeiro) que aprendeu chamar de pai e que o corrigia. Da avó Júlia de Oliveira Lima, a sua mística religiosa e as lembranças dos retalhos que confeccionava as colchas que se cobria e se eternizaram em suas telas. Da sua mãe, Clemência de Oliveira Lima, Magela não oprimiu em si a herança cultural da costeira, crocheteira e bordadeira. A  parceira de sua arte foi a mãe. Foi paciente e ensinou ao Tonico o macramê. E hoje que Clemência de Oliveira já não encontra entre nós e Tonico eternizou o macramê  dela na arte “Magela”. O amor de sua mãe que contribuiu no seu processo de amadurecimento de sua identidade e aceitação de si mesmo. Hora, Magela traz em sua memória a voz dos avós e da mãe com seus conselhos e ensinamentos  que fazem dele alguém tão especial e diferente.
A sua avó auxiliou na educação de Magela, ela o educava mais era com provérbios: “Quem come e guarda põe mesa duas vezes.” “Anel de ouro no focinho de porco” “Diga-me com quem andas e eu direi quem tu és.” E de sua mãe fica os conselhos: “Magela não tem jeito, não”... E sempre rezando por ele. Ela procurou entender o Magela, seu filho e auxiliar na busca de sua identidade cultural, étnica e de gênero. As fases da vida artística expressam a grandiosidade da sua mãe.
Em sua arte é fácil de notar o inusitado que ele é. O artista diferente que rompe com o padrão artístico e não excita em furar a tela e bordar o personagem que quer destacar. Não é compreendido por muitos. Quem o ver apenas executando uma arte religiosa que mistura o lixo recolhido às coisas sagradas, diz: “(...) Este artista “profana” as imagens dos santos”. A isto ele pensa e responde que os santos se santificaram justamente por cuidar do “lixo humano da sociedade”. E por que a arte não pode representar o “belo” e o “feio”?  Inserir os elementos da sua história  e do seu universo cultural não pode ser profanar o sagrado. A alma é sagrada. A pessoa humana por ser criatura de Deus é sagrada. E qualquer artista por ser humano e, portanto, é sagrado.
E o seu ato de recolher o lixo do leito do rio Jequitinhonha e inserir em sua hora é apelo e denúncia da falta de cuidado com a natureza. E encontrar o “lixo” em seus quadros é também demonstração da ruptura com padrões artísticos.

A vida escolar e a descoberta da sua dimensão artística

Estudou na Escola Estadual Normal Oficial de Almenara, atual E.E. Tancredo Neves.  E também na E.E. Landelina Dias Lacerda até o 2º ano do 2º grau. Descobriu-se como artista plástico na sala de aula, pois os seus trabalhos eram considerados pelos colegas e professores como “arte”.
O seu aperfeiçoamento enquanto artista plástico foi com sua professora de artes plásticas, Helena Guimarães Pequeno. A primeira arte foi “nau” e logo pintou a Igrejinha Nossa Senhora D’Ajuda. Começou a pintar os fragmentos do Rio Jequitinhonha com a técnica óleo sobre tela.
Querendo galgar como artista pintou o ´´GRUPO CORPO´´ – O maior grupo de balé contemporâneo (mineiro). A tela foi comprada por Lívio, irmão de Iomar da Energiza.
Conheceu Andréa Coelho que mostrou uma outra possibilidade de utilizar o material considerado “lixo” e que ele reciclava para inserir em suas obras de artes. Morou com Andréa em Ravena, próxima de Belo Horizonte,  um ano. O aprendizado foi a descoberta dessa possibilidade. Iniciou o trabalho em camisetas com esses materiais.
Foi aluno de Dona Helena Guimarães Pequeno, pintura em tela, mas a sua tendência artística para representar a religiosidade do Vale do Jequitinhonha em Gamelas ou flâmulas é uma herança cultural de seus avós e mãe ou mesmo do cotidiano místico do homem e mulher que vão à quermesse, romarias, que levantam mastros aos padroeiros e acompanham procissões.
A arte “magela” é o fundo do quintal com galinhas, cercas, roupas  quarando ao sol; são as lavadeiras lavando as roupas no rio, o ateliê da mãe, a agulha, tesoura, muitas novidades dos panos coloridos, que depois ganhavam “vida” e andavam pelas ruas demonstrando o trabalho de sua mãe...
“O circo caiu do céu. O circo acompanhou os personagens que mais parece que caiu do céu...”
O título da obra de arte a cobra ainda não foi pensada. As obras de arte que estão expostas em seu ateliê, estão todas em construção e por isso mesmo, o nome não foi inserido. As obras de “arte, prontas, já se foram da Aldeia Mund” para o mundo e divulgarão o seu trabalho. “O Ateliê Aldeia Mund” tem esse nome porque Guaranilândia, onde ele mora e está o seu ateliê, no passado era uma aldeia indígena.


A visita dos alunos da UNIPAC...
O ATELIÊ SE TRANSFORMA EM UMA GALERIA DE ARTE...

Que lição de acolhimento, amor e respeito ao diferente. O que ele muitas vezes não tem da sociedade que o discrimina... O artista negado e não divulgado pelo vale. Por quê? Até mesmo na arte, a inveja e a concorrência são elementos que prejudicam a divulgação da obra e do artista.

“(...) O importante não é concordar é entender. O povo do Vale concorda e por isto, O Vale é assim...” Magela traz em si a indignação de quem vive no vale e que não concorda com a ideologia que é veiculada nos meios de comunicação sobre o vale do Jequitinhonha como o “Vale da miséria”. Retrata em sua arte o apelo de cidadão que conhece a história local e quer transformação o espaço em que habita. Mistura-se com os simples e se fazendo simples, aprende com estes a clamar por justiça social.  “A arte não é muda”. (Magela)

A colcha de retalhos foi quadro escolhido para a aula com os alunos do curso de História da UNIPAC.  O elemento principal é a colcha de retalhos que lembra as colchas de retalhos de sua avó. Se as pessoas observam a mesma obra podem até pensar que é a cobra que é apenas um elemento da obra. Cada quadro da colcha é uma cena do cotidiano. É uma peça da cena do cotidiano do Brasil e da sua história pessoal. Por exemplo, o retalho da colcha que é a fábrica de picolés do seu avó (Augusto surunga), o outro são os diamantes do Rio Jequitinhonha, o varal, as figuras geométricas são as formas que lembram Oscar Niemeyer e  ele que quis homenagear como arquiteto maior do Brasil.

As oficinas feitas pelo Fernando e Magela

A primeira foi para sentir e ver uma obra de arte utilizando o tato e depois reproduzir no papel o que imaginou que seria. A segunda oficina foi vivenciar por um momento o papel de uma musa inspiradora do artista e experimentar o ofício do artista trabalhando a melhor posição para pintar a musa.
À tarde após a excursão por Guaranilândia, Fernando e Magela, ministraram a oficina da pintura oficial de uma obra que melhor representasse a “janela de Minas Gerais”.
O grupo de Nicácio, Jaqueline, Marilene, Antonio Carlos e Adelaide filosofou e pintou o quadro vivo pelo lado de dentro da janela que era para pintar. Na apresentação  comunicou que: “(...) O conhecimento que as duas, Russa e Tânia Botelho, transmitem é uma janela aberta para o mundo. ( Nicácio e Jaqueline)
O grupo de Marco Antonio, Adelaide, Fabrícia e Euzilane e grupo de Elmo, Elmário, Elane e Gildo... se alegraram por tentar  e conseguir pintar uma bela janela com símbolos da cultura de Minas
Magela declarou a criatividade e a capacidade dos grupos. Fernando realçou a necessidade e a importância da integração do primeiro grupo para vivenciar de fato o que foi solicitado. O grupo se dividiu em dois: um que quis homenagear as suas professoras e o outro que queriam experimentar “pintar um quadro”. E Magela concluiu: A grande arte está nas atitudes. A arte está aqui (coração) e a gente vomita na tela.
Intercalou-se a atividade da última oficina com a conversa com Dona Nene que Magela foi buscar na casa dela... Estes encontraram o grupo tomando o lanche da tarde e que foi muito farto por que cada um levou algo para partilha.
Terminou o dia com um churrasco de confraternização pelo grande dia, o encontro, o acolhimento e a amizade celebrada com muita alegria. A tristeza foi lembrar que era noite teríamos que despedir e partir. Valeu a experiência e o aprendizado.

* TÂNIA MARIA SANTANA BOTÊLHO  -  Mestra em Educação pela UNINCOR ,  foi professora de Metodologia de Pesquisa em Educação e História da Educação na Universidade de Itaúna – Campus em Almenara.  Atualmente é Coordenadora do Curso de História da UNIPAC – Unidade de Almenara e professora de Metodologia Científica no curso de enfermagem da ALFA (Faculdade de Almenara). Na Escola Estadual Joviano Naves  é professora de. História no Ensino Fundamental (5ª a 8ª série).

A EXCURSÃO À GUARANILÂNDIA

A arte em Guaranilândia
A cerâmica e os ceramistas

I PARTE – MANHÃ
 O ARTISTA PLÁSTICO – GERALDO MAGELA LIMA ALBURQUERGUE
1.3.2 Magela e sua arte
O Magela: o artista e a pessoa

 .1 O Ateliê – o conceito de Ateliê
O ateliê:   “Aldeia Mundi” – de Magela
Como surgiu a idéia desse ateliê
Quando                                              
Sugestão de Luis Santiago

II Parte – Almoço

III Parte – Excursão
Visitas aos artistas de Guarilanilândia:
1º  Dona Zizi – Visita ao cemitério indígena – “A mística”
2º Seu Luizão (o líder – o bate-papo) e dona Nenê (cabocla – uma das últimas)
3º Paulo e Marlice – no centro comunitário
A área de trabalho com artesanato indígena – no passado
4º  Esposa do Vereador - Soledade



No dia 29 de setembro de 2007 foi feita a primeira excursão do curso de História a um povoado do baixo Jequitinhonha, Guaranilândia, município de Jequitinhonha.  É um remanescente indígena segundo os relatos dos mais velhos, como o seu Ramiro, Dona Zizi, Dona Nenê e Seu Luizão. E o contato com estas pessoas foi a oportunidade organizada por Geraldo Magela para que os acadêmicos pudessem experimentar o processo de coleta de dados numa pesquisa.
Esta excursão teve como objetivo compreender as características da arte popular do Vale Jequitinhonha. Identificar as características das artes plásticas e a arte de alguns ceramistas. Confirmar a influência indígena na arte com argila. Do que foi organizado foi possível a pesquisa oral com Dona Zizi, descendente de indígenas, Dona Nenê, Seu Luizão e um contato direto com o artista plástico Geraldo Magela. Foi magnífico com a experiência de conhecer um ateliê que foi transformado em “Galeria de Arte”. Isto para oportunizar a vivência de postura e atitudes diferenciada numa galeria de arte. Valeu muito o carinho e a dedicação do Geraldo Magela, contribuindo assim, para crescimento do grupo.
A Turma foi esperada com muita alegria do Magela, Ronicássio, Antonio Pereira dos Santos ( o Tonico) e Fernando. Estes transformaram o ateliê em uma Galeria de arte. Os diversos momentos da “arte de Magela” foram expostos na exposição. Magela fez questão de expor os objetos que compõem a sua obra. Proporcionar aos acadêmicos a oportunidade de experimentar como trabalha o artista a partir de oficinas bem criativas.
O primeiro momento do encontro foi a apresentação dos alunos. E Magela escutou e registrou atentamente os dados e nomes dos alunos. Iniciou esclarecendo sobre o Magela pessoa e depois o artista. 
Desceu o quadro da “colcha de retalhos” fragmentos da história pessoal, do Vale e do Brasil.  Pode-se dizer o cotidiano do Vale, o imaginário individual e coletivo do artista. Pacientemente foi respondendo aos questionamentos. Porém, o momento surpreendente foi quando abriu a porta da cozinha e explicou que iríamos fazer uma viagem ao mundo encantador da arte. Uma viagem individual, que ninguém tocasse na arte, isto para não deixar marcas digitais nos quadros. O silêncio seria oportuno para não interromper o raciocínio interpretativo dos visitantes da “galeria de arte”. Foi magnífica a experiência de aprender visitar uma galeria de arte.
Foi concluída a parte da manhã com a pausa para fazer “o macarrão de panela de Marilene”.  Enquanto preparava o almoço, foi o espaço de tirar as fotografias do ateliê, de Magela, do grupo e por que não uma cervejinha para relaxarem um pouco.
Mais ou menos uma e meia o grupo se organizou para entrevista com a Dona Zizi. O grupo aproveitou bem o espaço de diálogo com Dona Zizi que acolheu tão bem a todos. Segundo Magela ela se abriu muito com o grupo. Elmo conduziu bem demonstrando conhecimento da história local e facilitou aos demais elaborarem suas questões e esclarecem suas dúvidas.
Depois de um longo tempo com Dona Zizi, dirigimos para Praça para encontrarmos com seu Ramiro e seu Luizão, ex-canoeiros que explicaram sobre a política, o comércio de panelas na região, o ecoamento em escalés e outras questões solicitadas pelos acadêmicos atento. .
Visitamos a Igreja, observamos e fotografamos as imagens antigas da Igreja. Visualizamos o estilo barroco em imagens antigas. Seguimos para o lugar onde provavelmente os índios viviam antes, conhecemos o cemitério local e
Os alunos irão reconstruir a excursão em Guaranilandia (o encontro para compreender o mundo do artista Magela); o laboratório de História Oral para coleta de dados da vida de Dona Zizi - descendente de indígena e dos canoeiros – Seu Ramiro e seu Luizão. Apresentarão os seus relatórios nos mesmos grupos das oficinas da excursão no dia 7 de novembro. Os alunos ( Maricléia, Beatriz, Gláucia, Eldivin e Deusdália) que não foram à excursão, estudarão textos sobre O artesanato e os ceramistas do Vale do Jequitinhonha e apresentarão resultado do estudo no dia 5 de novembro.
A proposta do trabalho do Magela: “...O importante não é concordar entender.”

A segunda oficina: experimentar o papel de uma musa inspiradora e o ofício do artista trabalhando a melhor posição para pintar a musa.

À tarde após a excursão por Guaranilândia, Fernando e Magela  ministraram a oficina da  pintura oficial de uma obra que melhor representasse a “janela de Minas Gerais”.

(...) O conhecimento que as duas, Rusa e Tânia Botelho, transmitem é uma janela aberta para o mundo. ( Nicácio e Jaqueline)


Entrevista com a Dona Zizi. O grupo aproveitou bem o espaço de diálogo com Dona Zizi que acolheu tão bem a todos.
E uma  conversa descontraída na porta da casa de Seu Luizão.
  
Saber ouvir a verdade do outro é sabedoria.
 Dona Nenê integrou ao grupo e os alunos que puderam conversar com ela usufruíram das informações coletadas. Os outros alunos estavam concluindo a oficina de pintura.