O Artista





















O artista plástico Geraldo Magela Albuquerque traz das águas do Jequitinhonha um refresco para os olhos: suas telas brincam em quintais de galinhas d angola, bananas e flores; seu lado sacro produz miudezas bordadas na bandeira de santos, no oratórios - gamelas, pratos de ágata. ele poderia ser estilista. Herdeiro de sua mãe costureira, mas como não podia tocar em sua máquina de costura, proibição absoluta, pois era ferramenta de trabalho e o ganho pão de dona bi, magela faz tudo a mão.
Suas telas são desenhadas ponto a ponto, com bordados e miçangas feitas de tudo que o artista recolhe no lixo, nas ruas, no rio, onde pescam madeiras, pratos de ágata, latas de óleo, plástico que recicla e transforma em beleza: das latas de óleo nascem flores, oratório e adereços vários. do plástico brotam relicários e outras delicadezas que brilham nas peças e telas, obsessivamente bordadas como se um bispo do rosário soprasse seu desejo.

"Eu chamo meu trabalho de sacro, outro diz que é pop. Só queria saber quem eu sou? Ele fala do íntimo e mínino detalhe seu e de cada um e assim denuncia nossos maus hábitos que exclui e deixa crianças nas ruas; do lixo que escoa pelos rios e descem em um Jequitinhonha específico: aquele do criador de arte magela albuquerque, para o qual o grande rio é fonte de inspiração maior. É sempre para o rio que ele volta para recolher seus tesouros e irrigar a alma.

Fragmentos da rica cultura do vale, coisas que ficam perdidas no tempo, cápsulas vazias de remédios, maço de cigarros, parafusos, fios de telefone, santinhos, toco de argila, grampo, códigos- de – barra, latas de refrigerantes, latas... "o rio ora é verde, ora azul, ora vermelho, por causa do excesso de argila dos córregos que deságuam nele,como um sangue vermelho correndo entre barrancos que sobraram depois da destruição das matas ciliares. o jequitinhonha hoje, no tempo da seca, parece um esqueleto porque está sendo todo assoreado", fala a testemunha de um Brasil pouco visto e ouvido – mas que a gente sente nas obras do artista.

Tudo em seu trabalho tem pulso e alma. Uma pescaria no grande inconsciente brasileiro, interiores e fundo de quintais. arte vinda de um Brasil profundo, que a gente ama e quer.

Lucy Dias, 2004













4 comentários:

Flávia Sousa Tupy disse...

Que lindo amigo. Te admiro e torço por vc! Sucesso, saúde e amor! 😍😘🙏

Unknown disse...

Gigante !!!!

Anônimo disse...

Uma grandeza de visão para o mundo é como o canto do Irapuru resolvendo sua parte no mundo com seu belo canto se tornando visto por grandes espíritos de luz nessa pequenina pérola que chamamos de terra. Parabéns e obrigado por fazer eu desfrutar de importantes momentos quando paro para observar seu minucioso trabalho orgânico.
Att: Edgar Souza.

Anônimo disse...

Ser humano e artista a dupla que deu certo : )